
TIRO E QUEDA
É
um jogador fascinante, intenso nas ações em que participa, talentoso na
condução da bola e suficientemente frio para, chegado ao momento da
verdade, decidir com a serenidade de um monge tibetano e a pontaria de
um pistoleiro quase infalível. Nolito conserva ainda o gene competitivo
que traz da infância, aguçado pelo temperamento indomável de quem se
agarrou à bola para evitar a derrota social a que parecia condenado nas
ruas pobres de Sanlúcar de Barrameda, no sul de Espanha.
Quando
chegou ao Benfica, no início da época, transportava motivação e
confiança inabaláveis. Assente em qualidade técnica e atrevimento,
Nolito foi surpreendente na rápida adaptação às ideias de Jorge Jesus e
no modo como acrescentou soluções ofensivas jogando em constantes
diagonais da esquerda para o meio. Podemos acusá-lo de não ter uma ampla
visão do jogo; que só progride em movimentos individuais ou sucessivas
tabelas curtas com as quais vai ganhando terreno; mas faz tudo em
velocidade, com precisão e sempre focado na baliza contrária. Não há
outro como ele na Liga portuguesa.
Com o tempo foi perdendo espaço
mas continua a sustentar a ideia de que tê-lo como suplente é daqueles
luxos só ao alcance das grandes equipas. Nolito, que acredita nele
próprio até à insolência, é precioso em qualquer circunstância: quando
sai do banco agita as águas (como frente ao Marítimo); se entra de
início é o primeiro a reclamar protagonismo (como se viu com o Rio Ave).
O estilo eletrizante que utiliza para abordar os adversários e seguir
viagem sempre com destino definido é uma das suas imagens de marca. Pode
ser deselegante na corrida e pouco ortodoxo em determinados gestos
técnicos mas, em menos de meia temporada, assinou 10 golos. Não é
perfeito? Não, mas é um grande jogador.
Rui Dias in Jornal Record