Foram-se os dedos mas ficaram os anéis (e como o Real Madrid é inimigo mortal do ‘zapping’)
O
responsável pela segurança do estádio do Sporting assegurou a João
Moutinho que nada tem a recear na noite do seu regresso a Alvalade. Não o
fez, no entanto, de forma directa. Não lhe ligou para o telemóvel
para, pessoalmente, tranquilizar o ex-capitão do Sporting o que,
convenhamos, não fazia sentido algum e até poderia ser confundido com
uma manobra sub-reptícia de intimidação.
O
responsável pela segurança do estádio do Sporting fez o que tinha de
fazer. Através da imprensa enviou o recado que lhe competia: Moutinho
«pode vir tranquilo» porque «ninguém lhe toca».
Ou
seja, ninguém toca em Moutinho pela parte que toca ao responsável pela
segurança do estádio do Sporting chamado, pela força das
circunstâncias, a assumir as responsabilidades inerentes ao cargo que
ocupa e, como se não bastasse, acrescidas das responsabilidades morais,
que não as suas, pela dramatização inevitável do regresso do jogador à
casa que foi sua e que, no Verão passado, o vendeu ao rival amigo do
Porto.
Que o Sporting é um clube Porto friendly é um dado adquirido, casta constatar a lista de negócios amáveis verificados entre os dois emblemas.
O
que preocupa o responsável pela segurança do Estádio de Alvalade não
é, portanto, a iminente visita do iminente adversário. É apenas a
visita de João Moutinho o motivo deste quebra-cabeça.
No
último jogo em Alvalade, um joguinho para a Taça de Portugal em que o
adversário era o Paços de ferreira, noticiaram os jornais que alguns
sectores do público se entretiveram a «ensaiar cânticos insultuosos
dedicados ao ex-capitão» e que, no fervor do momento, «rebentou um
petardo no sector da claque Directivo Ultras XXI» ferindo com alguma
gravidade um adepto que «perdeu três dedos».
Depois
de José Eduardo Bettencourt ter revelado numa inesquecível entrevista a
A BOLA que era descendente do Rei das Canárias e conhecendo-se,
historicamente, a origem nobre do Sporting, fundado pelo Visconde de
Alvalade, é caso para se dizer que foram-se os dedos mas ficaram, de
certeza absoluta, os anéis.
O
presidente do Sporting bem pode ser um príncipe das ilhas Canárias da
cabeça aos pés e vir agora apelar ao civismo dos adeptos mais
descontrolados do seu clube no sentido de evitar que o regresso de João
Moutinho a Alvalade não fique marcado por nenhum episódio que venha a
envergonhar os adeptos mais controlados do Sporting.
A
poucos dias do próximo clássico, José Eduardo Bettencourt desfaz-se em
elogios ao carácter e ao profissionalismo do rapaz a quem, no Verão
passado, chamou de «maçã podre» entre outras considerações do mesmo
teor.
«João
Moutinho foi sempre um profissional fantástico», disse. E disse também
que «não gostaria de ver atitudes menos correctas em relação a ele».
E
é muito provável que continue a dizer coisas do género até se saber se
a mialgia de esforço de que padece Moutinho será suficiente ou
insuficiente para o afastar do Sporting - FC Porto retirando ao jogo a
sua maior e tão aguardada componente bélica e demencial.
Sem
ter qualquer culpa no cartório, o responsável pela segurança do
estádio do Sporting está viver uma semana difícil. E até deve tremer
sempre que o presidente se aproxima de um microfone ou de um gravador de
um jornalista
Já
Antchouet poderia ter ficado com uma história para contar aos filhos e
aos netos… mas não o deixaram usufruir esse pequeno detalhe de
carácter pessoal.
Com 0-0 no marcador, Antchouet marcou um golo limpo ao FC Porto que o árbitro invalidou com um julgamento errado.
Até ao Moreirense…
Terça-Feira de Liga dos campeões na televisão, perspectiva de uma noite de zapping entre Braga, Londres e Amesterdão. Mas este Real Madrid é um inimigo mortal do zapping porque é muito difícil mudar de canal quando a equipa de José Mourinho está a jogar.
Espreita-se
para Braga e é engraçado ver o Arsenal todo baralhado a jogar contra
uma equipa que usa o seu equipamento histórico, passa-se por Londres e é
curioso ver como o Zilina se consegue adiantar no marcador na casa do
Chelsea mas quando se chega a Amesterdão é praticamente impossível
despegar do espectáculo mesmo com um Real Madrid que se apresenta com
algumas figuras da segunda linha como Albiol, Lass, Arbeloa ou Benzema,
que não tem sido titular.
O
tempo vai passando, o 0-0 persiste em Braga e o Chelsea empata frente
aos eslovacos. Há a curiosidade de ver Ramires em acção mas o apelo de
Amesterdão é sempre mais forte sobretudo quando Mourinho manda entrar
em campo Di María que não demora mais de cinco minutos a oferecer um
golo a Cristiano Ronaldo.
São
onze contra onze mas o Ajax sofre a bom sofrer. Depois o árbitro
expulsa Xavi Alonso e Sergio Ramos, o Ajax joga contra 10 e depois
contra 9 mas continua a sofrer a bom sofrer na parte final do jogo. É
tanto e tão bom futebol que até faz impressão.
Um
derradeiro salto para braga que está a ganhar por 1-0. Os tipos do
Arsenal estão francamente irritados, vê-se que não gostam de perder,
tentam o empate ao transe mas Matheus pega na bola, vai por ali fora e
faz um golão que há-de render uma fortuna.
Foi uma bela terça-feira, não haja dúvida.
Já
a quarta-feira foi uma lástima. Podíamos até ter ganho o Prémio da
Regularidade somando três derrotas sempre por 2-0 nos jogos disputados
fora na poule da Liga dos campeões. Mas nem isso. Já em tempo de compensação, o Benfica sofreu o terceiro golo e estragou o lamentável brilharete a que se candidatava.
Em
Israel, ontem, o Benfica conseguiu, no entanto, impossíveis. Ao
intervalo ganhava por 11-0 em pontapés de canto e perdia por 1-0 em
golos. Na segunda parte, chegou aos 18-0 em cantos e sofreu o segundo
golo no primeiro pontapé de canto a favor do Hapoel.
Carlos
Manuel, comentando o jogo na televisão, garante que os jogadores do
Benfica sofrem de «fadiga mental». Não será, porventura, o caso. Mas,
para já, quem sofre e muito de fadiga mental são os adeptos.
Leonor Pinhão, 25 de Novembro in Jornal A Bola