Parabéns ao Porto
pela vitória de amanhã
Manda o desportivismo felicitar o adversário quando ganha, e
eu aproveito para me antecipar. No jogo de amanhã, tudo está a favor do Porto.
O Benfica vai, provavelmente, apresentar a sua segunda equipa. Creio que a inteligente
estratégia inaugurada pelo Leiria pode ter feito escola, e não me surpreenderia
que todos os clubes passassem a jogar no Dragão com as reservas. Dizem que
poupar jogadores no Dragão é duplamente saudável: refresca os titulares que
descansam, e também revigora os clubes. Quando se sabe gerir o esforço é outra
coisa. Além disso, o árbitro será Pedro Proença, que é benfiquista (como Vale e
Azevedo), e é o célebre inventor do penalty inexistente de Yebda sobre Lisandro
López, há dois anos.
Talvez Proença e Vilas Boas possam, no fim do jogo, trocar
algumas impressões acerca da actividade de detectar penalties que mais ninguém
vê, da qual são ambos orgulhosos praticantes. De acordo com o jornal Semanário
Privado de 26 de Agosto de 2009 (que só li para não ser excluído da discussão
pública), Pedro Proença é também referido na escuta de uma conversa entre Pinto
da Costa e Pinto de Sousa. Pinto da Costa pergunta ao amigo quem vai ser o
árbitro de determinado jogo do Porto, e Pinto de Sousa responde, referindo-se a
Pedro Proença: «É o que a gente combinou». O futebol português pode ter muitos
defeitos, mas do ponto de vista da organização é irrepreensível: quase tudo
está combinado. Mais: o Benfica tornou a preparar-se de forma deficiente para o
jogo. Como se viu em Coimbra, bola na mão na área do Porto é bola na mão; bola
na mão na área do adversário é penalty, o que constitui urna vantagem
inestimável para os portistas. A ártica maneira de contrariar esta vantagem do
Porto é reforçar o plantel com jogadores manetas, e o Benfica teima em não o
fazer. Por outro lado, a equipa volta a apresentar-se no Dragk) apenas com os
onze jogadores, e não com onze jogadores e onze caddies. É indigno que tenham
de ser os próprios futebolistas a apanhar as bolas de golfe.
ACADÉMICA e Porto encontraram-se na semana passada para
jogar urna modalidade desconhecida, e o resultado final foi a vitória do Porto.
Surpreendentemente, os três pontos obtidos contaram para o campeonato de
futebol. Foram várias as pessoas que dis seram que o jogo não se deveria ter
realizado, mas compreende-se a decisão de não adiar. Se o jogo tivesse sido
adiado, o Porto chegaria ao encontro com o Benfica com apenas quatro pontos de
avanço. Se se realizasse na data prevista, poderia chegar com sete. Valia a
pena arriscar.
MIGUF.I. SOUSA TAVARES insiste que «a Declaração de
Independência dos Estados Unidos é parte integrante da Constituição americana,
escrita oito anos depois» . Lamento, mas é falso. A Declaração de Independência
não é repito, não é — parte integrante
da Constituição americana, que por sua vez não foi — repito, não foi — escrita
oito anos depois, mas mais de dez anos depois. Não é bem uma questão de
opinião, é um facto que pode ser comprovado por qualquer leitor, por exemplo no
sitio da biblioteca do Congresso. Os leitores interessados podem ain da
consultar Os Lusíada o Pantagruel e o Kama Sutra e verificar a curiosa
coincidência de todas essas obras terem em comum com a Constituição americana o
facto de a Declaração de Independência não ser — repito, não ser parte
integrante delas. Creio que, após ter confundido a Constituição com a
Declaração de Independência, MST confunde agora a Declaração de Independência
com a Declaração dos Direitos dos Cidadãos (a chamada Bill of Rights), que
contém as primeiras dez emendas à Constituição. Começam a faltar documentos
históricos importantes para MST confundir com a Declaração de Independência, pelo
que tomo a liberdade de sugerir, para confusões futuras, os seguintes: a Magna
Carta, o Tratado de Tordesilhas e os Estatutos do Clube Desportivo Arrifanense.
Resumindo: como tenho vindo a dizer, a frase que MST citou como sendo da
Constituição é da Declaração de Independência — e atribuí-la à Constituição é,
aliás, um erro comum. Mas não é grave. É sem dúvida menos grave do que a
incapacidade de admitir erros. MST gaba-se de ter sido, juntamente com Cavaco
Silva, «o único de todos os convidados a recusar o convite» para ir ao Gato
Fedorento Esmiúça os Sufrágios. Lamento, mas é falso Confesso que desconheço como
é que MST, sem recurso a poderes mediúnicos, julga saber quem é que foi ou não
convidado por nós, mas esta nova mistificação tem um objectivo claro: sugerir
que os textos de MST são de tal modo excelentes que a mais pequena crítica que
lhes seja feita só pode ser produto de tuna mesquinha vingança. No entanto, ao
contrário do que MST pretende, recusaram ir ao programa Cavaco Silva, Jorge
Sampaio, Pinto Monteiro, Manuel Pinho, Maria José Morgado, Belmiro de Azevedo,
José Mourinho, Cristiana Ronaldo, Azeredo lopes, Maria dei urdes Rodrigues,
Alberto João Jardim, Manuel Alegre, Pacheco Pereira, José Eduardo Moniz,
Manuela Moura Guedes, Medina Carreira e
Miguel Sousa Tavares. Faça-se justiça: NIST, não tendo sido o único a recusar,
foi, sim, o único a pedir 24 horas para pensar. Todos os outros decidiram mais
depressa. Quanto a nós, nem retaliamos contra quem recusa nem premiamos quem
aceita. Basta lembrar que Rui Moreira aceitou participar num programa nosso e
leva o mesmo tratamento. Mas, tal como MST, também eu me tenho lembrado, por
estes dias, do Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios. Era um programa cuja
estratégia humorística principal consistia em apresentar declarações de
determinado político a defender urna dada posição, seguidas de outras declarações
do mesmo político a defender a posição oposta. A incoerência, quando é assim
flagrante, tem graça. E, como vivemos em democracia, apontar as incoerências
dos mais altos (e também de alguns dos menos altos) dignitários da nação é legítimo.
Fazer o mesmo com as doutas opiniões de comentadores desportivos é que parece
ser intolerável.
Ricardo Araújo Pereira, 6 de Novembro 2010 in Jornal A Bola
Ricardo Araújo Pereira, 6 de Novembro 2010 in Jornal A Bola