Morreu de cansaço o polvo Paul que, sem saber ler nem escrever, se
tornou numa das celebridades maiores do último campeonato do mundo de
futebol.
O polvo Paul acertou sempre no engodo que lhe deram a escolher em forma de substância alimentar e previu todos os resultados da selecção alemã na África do Sul bem como o resultado da final disputada entre a Holanda e a Espanha.
Não foi coisa pouca, ainda para mais debaixo de água.
O futebol mundial perdeu, assim, o seu oráculo mais tentacular. Em
Portugal, felizmente, ainda temos o professor Karamba e outros
professores adivinhadores, mas foi com lástima que vimos partir Paul, o
único que nos poderia garantir, com razoável antecedência, quantos dos
quatro jogadores quatro vezes amarelados do Benfica resistirão
amanhã, frente ao Paços de Ferreira, ao quinto cartão amarelo e à
consequente exclusão do jogo com o FC Porto na jornada seguinte.
Águia, alegadamente prima da águia Vitória, que o Benfica cedeu em regime de franchising
à Lazio, recusou-se a voar no domingo passado no Olímpico de Roma,
escapou-se para a cobertura do estádio e foi dali que assistiu à vitória
dos donos da casa sobre o Cagliari e ao consequente reforço da posição
da Lazio como comandante isolada do campeonato italiano de futebol.
Sem querer cair no domínio da especulação fácil, é de desconfiar que a águia que está em Roma não só não é prima da águia Vitória como é a própria águia Vitória
que terá sido raptada ou que, numa confusão de identidades, se vê agora
muito contrariada em Roma, longe da Luz e do Benfica que é o seu clube
desde o ninho em que nasceu.
Teríamos assim, de uma assentada, a explicação para o excelente
início de campeonato da Lazio, abençoada pela águia original, e para o
menos excelente arranque de um Benfica confundido sob as asas de uma
falsificação grosseira de pássaro.
O que também, por si só, justifica a desvalorização completa do incidente registado entre dois stewards de serviço, o tratador Barnabé e a falsa águia Vitória no decorrer do intervalo do jogo com o Arouca, para a Taça de Portugal.
Ah, se aquilo fosse com a original outro galo cantaria.
Deixemos agora em paz os animais. Vamos falar de árbitros. Michel
Platini mostrou-se no início desta semana totalmente contrário à
introdução de tecnologias no futebol que possam corrigir e desautorizar
os julgamentos dos juízes de campo. Para o presidente da UEFA, um
futebol sem erros de arbitragem arriscava-se a descer aos patamares de
emoção virtual da PlayStation que mesmo assim, sem erros dos árbitros, é o jogo de computador mais vendido em todo o mundo.
No entanto, se os inventores da PlayStation tivessem a
ousadia de introduzir no mercado um jogo com erros de árbitros, com
roubos de igreja, com fruta, café com leite e viagens ao Brasil,
certamente não só venderiam menos o seu produto como até contribuiriam
de forma exponencial para o aumento de venda de televisões tantos seriam
os aparelhos partidos, esmigalhados, incendiados, pela justa revolta
dos jovens e dos menos jovens consumidores do jogo electrónico.
Em Portugal estamos ainda numa fase menos electrónica da arbitragem.
Os nossos juízes fazem o que podem para melhorar a sua reputação e como
são cidadãos iguais aos outros anunciaram, no final da última semana, a
intenção de fazer uma greve por questões que se prendem com a
fiscalidade e a segurança social. Está visto que são humanos!
Os árbitros portugueses reuniram-se e ameaçaram não comparecer em
campo no fim-de-semana de 6 e 7 de Novembro que é, precisamente, o
fim-de-semana correspondente à jornada do campeonato em que o Benfica
visita o FC Porto.
Francamente, torna-se difícil descortinar onde é que está a ameaça de
não haver árbitro no Estádio do Dragão a 7 de Novembro. É que, bem pelo
contrário, até me parece um grande descanso.
Depois do Benfica, chegou a vez de o Sporting de prestar homenagem
aos 33 mineiros chilenos. O embaixador do Chile em Portugal deslocou-se a
Alvaláxia, recebeu no centro do relvado 33 cachecóis do Sporting,
personalizados com os nomes dos heróis subterrâneos e quando, muito
agradecido, perguntou ao presidente Bettencourt e ao director Costinha
se gostariam de receber no seu estádio os 33 mineiros que hão-de fazer
uma tournée pela Europa, logo Costinha se apressou a responder: «Depende muito da maneira como vierem vestidos, senhor embaixador…»
E, depois de ouvir isto, como se não bastasse, o embaixador chileno
ainda teve de assistir ao jogo entre o Sporting e o Rio Ave e às penosas
exibições de dois compatriotas seus.
E ainda há quem diga que a carreira diplomática é um luxo.
Com uma prestação europeia francamente medíocre, o Benfica dá mostras
de ter atinado finalmente na competição interna e já vai na quarta
vitória consecutiva e no quarto jogo sem sofrer golos, o mínimo que se
exigia ao campeão depois de um arranque a todos os títulos lamentável.
Maxi Pereira, talvez entusiasmado por este assomo de recuperação,
disse no final do jogo com o Portimonense que «este já se parece com o
Benfica da época passada». O que, honestamente, não é verdade. É que nem
o próprio Maxi se parece com o Maxi da época passada, como concordarão,
quanto mais o Benfica no seu todo, tão monocórdico e previsível em
todas as fases do jogo.
Depois de o presidente do Sporting ter denunciado os «Herris
Batasunas» que andavam a sabotar o seu plano de recuperação do clube,
veio agora o presidente do FC Porto queixar-se do «Bin Ladens» que não
lhe dão o valor que merece.
Felizmente que o presidente do Benfica não entra nestes temas tão confrangedores quando está irritado.
Leonor Pinhão, 28 de Outubro in Jornal A Bola