1- Benfica denotou falta de frescura física
Apesar
de ter entrado com mais iniciativa - como seria de esperar pelo facto
de jogar em casa e na qualidade de campeão nacional - e de ter tido uma
oportunidade de golo logo aos oito minutos por Coentrão, este Benfica
não me pareceu fresco fisicamente. Fez as coisas em esforço, sem a
naturalidade que demonstrava no ano passado. E quando falta frescura
física, os jogadores não pensam nem executam da mesma maneira. Daí que,
na primeira parte, além da de Coentrão, só tenha tido outra ocasião
clara de golo, num lance de bola parada concluído com uma cabeçada de
Sidnei.
2- Sobrecarga da pré-temporada?
Há
equipas italianas que começam os campeonatos assim, com os jogadores a
sentirem dificuldades nos primeiros jogos devido às elevadas cargas
físicas. Não conheço a estratégia da equipa técnica do Benfica em termos
físicos, mas quer-me parecer que os treinos não diferem dos do ano
passado. Onde se nota uma diferença grande é precisamente em relação à
frescura física, quem sabe como resultado de uma sobrecarga da
pré-temporada, em que o Benfica fez jogos de dois em dois dias com
viagens pelo meio. Tanto na Supertaça, com o FC Porto, como ontem,
frente à Académica, aquilo que vi não foi um ou dois jogadores
fisicamente mal, mas sim uma equipa inteira, e assim torna-se mais
difícil disfarçar as saídas.
3- Ausências de Di María e Ramires por colmatar
O
Benfica não conseguiu fazer esquecer Di María e Ramires. O brasileiro é
muito bom tacticamente, lê muito bem o jogo, tem simplicidade de
processos e ainda aparece na área; não é por acaso que é internacional
pelo seu país e foi contratado pelo Chelsea. Rúben Amorim é obviamente
um jogador diferente. Quanto ao argentino, que é um desequilibrador nato
e muito veloz, no actual plantel dos encarnados Coentrão é aquele que
mais se aproxima das suas características. No ano passado, o Benfica
também não começou a Liga a ganhar (empatou com o Marítimo), mas desta
vez a resposta da equipa não esteve ao mesmo nível.
4- Uma Académica à imagem do treinador
A
Académica, por seu lado, foi uma equipa bem organizada, que recuava no
seu meio-campo quando defendia, mas procurava as transições rápidas,
através dos alas Sougou e Diogo Valente, para surpreender. Atacava e
defendia com muitos elementos e mostrou personalidade, o que é mais
notável se atendermos ao local do encontro, o Estádio da Luz, e ao
adversário, nada mais nada menos que o campeão nacional. Esta Académica é
a imagem do treinador! A vitória de ontem fez-me recordar os jogos que o
Olhanense da época passada, treinado por Jorge Costa, fez em Alvalade,
no Dragão e na Luz. Tal como essa, também esta Académica é uma equipa
destemida, que não se fecha, que não põe o autocarro à frente da baliza e
que discute o jogo. Embora sendo mais débil quando comparada com os
grandes, procura jogar, não dá pontapés para a frente. Acredito que esta
será uma das boas equipas do campeonato e, nos jogos fora de casa, vai
aproveitar bem os seus jogadores mais rápidos. Conheço bem Jorge Costa,
fui treinado por ele e sei que gosta de que as suas equipas joguem bom
futebol.
5- Um golo candidato ao Top 5 da Liga e outro fruto da defesa à zona
A
vitória da Académica surgiu graças a um grande golo, que provavelmente
estará no Top 5 deste campeonato. É um remate indefensável, muito
colocado e que entrou junto ao ângulo - Roberto não está adiantado,
ninguém evitaria aquele golo. Ficou a dever-se a um desequilíbrio
defensivo do Benfica e à capacidade da Académica, em transições rápidas,
de libertar três ou quatro jogadores para o ataque. O primeiro golo da
equipa de Coimbra surge de uma bola parada, situação que o Benfica
defende à zona e em que, quando não se ataca a bola, se correm grandes
riscos quando - como foi o caso - o adversário é mais rápido.
6- A expulsão, Coentrão e Laionel
A
expulsão de Addy marcou a segunda parte, período em que o Benfica teve
total domínio do jogo, embora a Académica não tenha abdicado do ataque.
Sempre que ganhava a bola, saíam dois ou três jogadores para a frente.
Com grande espírito de sacrifício e solidariedade, subiam e desciam no
terreno. Foi isso que fizeram Sougou e Diogo Valente na primeira parte
e, mais tarde, apenas o primeiro. Com dez, o jogo tornou-se muito
complicado, mas os visitantes continuaram a demonstrar uma forte
personalidade. Do lado do Benfica, o perigo surgia pelas alas, em
especial por Coentrão, não só no golo de Jara como noutras situações.
Aliás, o esquerdino é o único jogador do Benfica a merecer um destaque
individual, não só pelos desequilíbrios que criou, mas especialmente
porque, ao contrário do que seria de esperar pelo facto de ter estado no
Mundial, pareceu o menos cansado. Na Académica, o destaque óbvio vai
para o golo de Laionel, que é do outro mundo, pela intenção, pela forma
como chutou, pelo local de onde o fez. Entrou fresco, com capacidade
para decidir, e demonstrou muita qualidade