‘I gotta feeling’ que a Selecção não desperta ‘feelings’
Junto a minha voz à daqueles que se indignam por o hino oficioso da
Selecção não ser uma canção portuguesa. Não por patriotismo, mas por
coerência com a realidade: creio que a música mais apropriada para este
nosso conjunto seria um fado. Antigamente, todas as janelas do País
tinham de ostentar uma bandeira portuguesa, mesmo que tivesse pagodes no
lugar de castelos. Agora, ninguém vai aos chineses comprar uma bandeira
nem que tenha sido bordada à mão pela padeira de Aljubarrota e tingida
com sangue de D. Afonso Henriques.
A verdade é que há sacas de batatas mais entusiasmantes do que Carlos
Queiroz. Mais facilmente um brasileiro nos faz sentir portugueses do
que ele. E, em certa medida, devemos estar-lhe gratos por isso. Com
Scolari, o povo português andaria agora entretido a bufar nas vuvuzelas
até ficar com as beiças em carne viva. Estaríamos a viver tempos
insuportáveis. Elefantes viriam da Índia atraídos pelo barulho, julgando
ter ouvido o grito de acasalamento de fêmeas gigantes, e procurariam
fazer criação com os portugueses mais volumosos que encontrassem. Com
Queiroz, a população da Covilhã em peso organiza-se para lhe comunicar
que gostaria de o ver com uma vuvuzela, mas a sair do orifício errado.
Compreende-se: por exemplo, Scolari tentou bater num estrangeiro, o que
sempre galvaniza o bom povo. A única vez que Queiroz esteve tentado a
dar uns bananos, escolheu um português. Isso tem sido uma espécie de
imagem de marca: como se tem visto nos jogos, esta selecção não tem
agressividade nenhuma frente aos estrangeiros.
Ora até que enfim que José Mourinho tem, em Portugal, o
reconhecimento que lhe é devido. Não sei se ainda se lembram mas, há uns
anos, alguns dos que agora rejubilam com a façanha do treinador
português e só lhe vêem virtudes estavam a ameaçá-lo de morte. Um
vice-presidente do clube ao serviço do qual ele ganhou a sua primeira
Liga dos Campeões foi ao seu quarto na véspera da final passar-lhe o
telefone, para que ele pudesse ouvir de viva voz uma mão cheia de
insultos e ameaças. Parece que, desta vez, tal não sucedeu. Parabéns a
José Mourinho pela sua segunda Taça dos Campeões, e a primeira que ele
teve vontade de festejar. Sentiu-se que ele prefere assim.
“Nós vamos a partir de hoje aqui solenemente dizer-lhe (…) que nós
queremos este ano dedicar a vitória do campeonato a si. A si, que vai
ser campeão”.
Pinto da Costa
À conversa com ma fotografia de José Maria Pedroto
7 de Janeiro de 2010
“Eu não sou prometedor de títulos nem de nada, que não uso esse tipo
de conversa”.
Pinto da Costa
27 de Maio de 2010
Este ano não tem sido fácil para quem já foi treinador do Porto. José
Maria Pedroto, ao contrário do prometido, não ganhou o título deste
ano, e Jesualdo Ferreira já sabe que não ganha o do próximo. Na origem
de ambas as desfeitas está Pinto da Costa. Diz-se que o desnorte tem a
ver com a má época do Porto, mas deve reconhecer-se que não foi tão
desastrosa como se tem dito. Por exemplo, é mentira que os jogadores do
Porto não vão disputar a Liga dos Campeões na próxima temporada. O
Rentería, em princípio, vai.
Ricardo Araújo Pereira, 29 de Maio de 2010 in Jornal A Bola